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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

À Meia-noite no Asilo


À Meia-noite no Asilo


O assunto do texto de hoje é relacionado com a minha doença e minha cura.  Abro a minha caixa de Pandora, ou melhor, a minha mente e escrevo sobre o que sinto e penso. Como já havia dito em outras vezes, minhas emoções eram confusas. Se por um lado, eu era alguém simpático na medida do possível, algumas vezes, eu me transformava completamente e agia de forma rude e estúpida. Qualquer crítica, mesmo sendo insignificante, já era um golpe de misericórdia no meu humor. E ficava irritado. Muito.

 Já briguei e desfiz amizades preciosas. Perdi amores. Sou daquele tipo de pessoa teimosa, incapaz de lidar com a sinceridade de outros e que só olha numa mesma direção. É difícil de lidar com um troglodita como eu. Para crescer como ser humano, temos que corrigir os nossos detalhes, os pequenos pecados nossos. Como a psicologia convencional não funciona comigo, resolvi exorcizar meus demônios com a escrita e desabafar com um computador. Meus dedos dançam em cima das teclas, as letrinhas vão aparecendo no Word e eu, procuro alguma resposta oculta para as minhas perguntas nas entrelinhas dos meus textos. Quero entender meus próprios sentimentos para aprender a lidar com as frustrações. Afinal, segundo o grego Sócrates, conhecer-se a si mesmo é a maior sabedoria do universo. Minhas letras são minhas confidentes e minhas conselheiras. Consegui grandes pequenos passos nessa caminhada. Uma pessoa tranqüila, serena, capaz de lidar com as pequenas dificuldades do dia-a-dia é aquilo que preciso me tornar. Meu crescimento como ser humano depende de disso. Se quero mudar o mundo, ter a certeza de que o amanhã será melhor, preciso começar por mim.

Quero transformar o mundo, começando pela minha vida e não estou falando de uma mudança superficial, como um novo corte de cabelo ou uma roupa nova. É prometer algo para si mesmo e ir até as últimas conseqüências. E a mudança precisa ser sincera, porque toda a mudança, quando é sincera, é permanente, como diria Aristóteles. É preciso ser sábio para fazer isso. Algumas pessoas procuram tal conhecimento em livros de auto-ajuda. Uma tentativa desnecessária. Energia desperdiçada. A mudança é algo de dentro para fora e não de fora para dentro. É um longo e árduo caminho para percorrer e o que motiva uma pessoa a seguir em frente é ela própria e não algum livrinho bobo.

Ou a pessoa é firme em sua própria decisão ou não é. Ponto final. Trocando em poucas palavras, um punhado de psicologia não faz mal para ninguém. E quero usá-la para modificar comportamentos, transformar pensamentos e mudar o “agir” das pessoas em nome de um mundo melhor. O pensamento humano é uma realidade fractal. Sabe o que é fractal? É algo simples, quando vista de longe. Quando você enxerga o interior, você nota detalhes e mais detalhes. Na medida em que você mergulha nesse universo, você descobre os detalhes dos detalhes e assim por diante. Eu posso sentir diversas coisas.

Ódio, rancor, raiva, amizade, amor, penso, reflito, paixão... Enfim, sou um monte de coisas. Sou trilhões de qualidades e trilhões de defeitos. Rancoroso e ao mesmo tempo, coração puro. Apaixonado e mesmo assim, um tanto quanto magoado. Justo, contudo, indigno.

Sou aquele que quando deseja crescer, diminui e quando deseja diminuir, cresce. O íntimo nosso é resultado de detalhes que se complementam. Um mísero pensamento repetido ecoando mil vezes no interior humano muda o caráter e o agir de uma pessoa.

O mais medíocre dos seres humanos pode ousar querer algo mais e alcançar qualquer sonho. Crer nisso é ser forte. O mundo não é governado por grandes líderes ou pelas nações poderosas. Nosso vasto, enorme e complicado planeta é movido por pessoas comuns, como eu e você. O meu blog, por exemplo, é uma tentativa minha de divulgar a idéia de querer um mundo melhor. Desejo um planeta melhor, sem violência, sem poluição, sem fome ou miséria. Mas... Sou apenas um grão de poeira perante trilhões de chaminés poluidoras, toneladas partículas gasosas tóxicas, políticos despreocupados com a questão ambiental, trilhões de conflitos ocorrendo ao redor do globo, vidas de crianças sendo roubadas pelo fantasma da fome, o crime, as catástrofes naturais, a pobreza, a falta de esperança, a barbárie e a exploração do homem pelo homem. O que posso fazer? É um típico exemplo de uma velha conhecida nossa. É a tal da angústia.

Nós nos sentimos de mãos atadas... Um sentimento de frustração perante as injustiças do mundo que nos impede de lutarmos por algo melhor. O medo de falhar... Esse é o nosso inimigo. A nossa guerra só acaba quando perdemos a fé. Se não podemos confiar em mais nada, que tal confiar em nós mesmos? Podemos contribuir com alguma coisa.

Sempre é assim e sempre será assim. Portanto, ser rico, ter um diploma pregado na parede, inteligente, bem sucedido, ter bens materiais e até ter todo o poder desse universo nas mãos não significa muita coisa. O mundo não precisa de inovações tecnológicas, de líderes geniais ou de soluções mágicas. Precisamos de um pouco da velha honestidade, da transparência e da boa vontade. A ética é a solução para tudo. Quer dar uma ótima contribuição ao mundo? Seja você mesmo.

Jesus Cristo, por exemplo, demoliu os alicerces de inúmeras filosofias, modificou o “pensar”, influenciou gerações através dos séculos... E tudo o que ele pregava era simples. Quer algo mais fácil de entender do que “Amai-vos uns aos outros, assim como eu os amei”? E precisamos disso. Países mais preocupados em emprestar trilhões aos bancos para salva-los das crises econômicas do que perdoar as dívidas externas de países miseráveis, empresários bem sucedidos nem um pouco consciente em tratar da poluição que as chaminés das empresas deles produzem, políticos corruptos e cientistas pouco interessados em desenvolver tecnologias alternativas para melhorar a qualidade de vida das pessoas como carros menos poluentes são exemplos de que não a honestidade de pessoas comuns é o que melhora o mundo. É o valor ético que põe o mundo em ordem.

"A aparente desordem do universo é só uma ordem mais elevada, uma intricada ordem além da compreensão. Por isso as crianças me interessam. São todas loucas, mas em cada uma está um adulto intricado. Ordem gerada do caos. Ou caos gerado da ordem?"

- Do personagem Chapeleiro Louco em Asilo Arkham


- Autor: Grant Morrison

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