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terça-feira, 9 de março de 2010

Analfabetismo Ambiental:



O vídeo que você acabou de assistir é um pedaço do pronunciamento de Dilma Rousseff na COP 15. Ela quer ser presidente. E exemplifica muito bem como é difícil entender o que é o desenvolvimento sustentado. Não julgo se ela é a melhor ou a pior candidata para a presidência. Apenas critico a infeliz confusão feita por ela durante o discurso. Como num efeito dominó, as palavras dela provocaram terríveis conseqüências. Há ainda muita gente se confundindo com o significado do termo "sustentabilidade."
Que diferença faz se Dilma é apoiada pelo Lula ou se Marina Silva é militante da causa ambiental ou o histórico político de José Serra? O que deixo bem claro é o seguinte:
Não importa o candidato, as idéias defendidas por ele ou se ele é de esquerda ou de direita. O que importa é que ele trabalhe. Não importa se o gato seja preto ou branco, contando que ele mate ratos. O que mais importa para um candidato é a inteligência dele. Agora, por que insistimos em escolher o candidato errado? O que é um bom candidato?

Já sabemos que o bom candidato é inteligente. Muito inteligente. Desconfie, por exemplo, daquele candidato que promete emprego para todos. Ele até pode conseguir a tal façanha e ser um político honesto. O bom caráter é importante. Mas não é tudo. Do que adianta políticos honestos se eles são enganados pelos “tubarões de colarinho branco”? Vamos exemplificar?
A) Existe certa comunidade bem pobre. O governo, querendo gerar empregabilidade naquela região, monta uma indústria têxtil. Ótimo. Agora, todos têm emprego. E daí? É suficiente para que a comunidade saía do subdesenvolvimento? Os empregos de lá são realmente bons? Indústria têxtil precisa de muita água para funcionar. Toda essa água, no final do processo produtivo, vai voltar para o mesmo rio onde foi captado. Alguém parou para pensar que instalar essa empresa naquela região significa poluir as águas do rio no momento em que o esgoto industrial (água usada na produção) é descartado? A qualidade de vida caiu. Muitas pessoas ficam doentes. Outras morrem. Típico cenário de comunidade carente. O presidente da empresa nem pensa em investir em tratamento de águas. É perda de dinheiro. Os trabalhadores braçais não ganham aumento e nem promoção. Nem podem opinar ou sugerir melhoras na empresa. Imagine que um dos setores da empresa entre em greve por causa de um ar-condicionado quebrado num verão onde a temperatura sobe até aos 40°C. Ficar trabalhando algumas horas por dia debaixo de um calor infernal é crueldade. Sugerem a instalação de ar-condicionado. Entram em greve. O patrão não aceita as reivindicações, sugestões ou opiniões. No fim, os incomodados são demitidos. É o que acontece na maior parte das indústrias. A ganância na forma de empresários engravatados segue aquela velha filosofia do positivismo. Ou seja, para que haja progresso, cada pequena parte deve desempenhar sua função e nunca questionar nada. O raciocínio é sempre o mesmo: o patrão tem sempre razão e os empregados insatisfeitos sempre encontram alguma desculpa para entrar em greve. Trabalhar honestamente não significa crescer economicamente. Ao menos, não aqui no Brasil, o país dos impostos, dos poucos ricos e muitos pobres. Estão percebendo? O candidato, na maior das boas intenções, gerou emprego para todos. Só que ele não se perguntou qual é o tipo de emprego ou quais são as conseqüências ambientais e sociais para a comunidade. É por isso que no Brasil, poucos enriquecem e muitos empobrecem.
B) Agora, vamos observar a mesma situação por outro ângulo. A mesma indústria investe nas tecnologias para tratar a água. A qualidade ambiental e da vida das pessoas aumenta. O dono da empresa investe, também, no potencial humano. Paga mais para aquele funcionário que trabalha mais ou que apresenta alguma solução inovadora. Aos poucos, a empresa vai se transformando num local onde as pessoas são promovidas, ganham cada vez mais e sugestões são ouvidas, discutidas e acatadas. É ou não é bom trabalhar lá? Isso é que estimula o crescimento profissional. E se de repente, algum funcionário sugerir, para o dono da empresa, algo totalmente novo? Já pensou que bom seria se os filhos dos funcionários visitassem a empresa para aprender, por exemplo, a importância de se conhecer o que é a densidade, um assunto bem chato da química, para se tratar a água? Ver como a química pode ser trabalhada não estimula o interesse da criançada? Os retalhos (pedaços de pano que sobram do processo produtivo) poderiam servir como matéria-prima para feiras de reciclagem organizadas dentro da escola. Passeios ciclísticos envolvendo próximos do rio usado para captar água serviriam para que o estudante compreendesse que indústria não é sinônimo de poluição, afinal, toda água usada é tratada. Vê? A empresa, a comunidade, a escola, os funcionários, as pessoas e o meio ambiente se tornam um só e vão progredindo juntos. Isso é desenvolvimento sustentável.
Político precisa enxergar a totalidade, compreender que a sociedade, a indústria e o meio ambiente interagem entre si.
Quer saber? Por enquanto, não escolhi meu candidato. Não defendo ninguém. Apenas critico a desonestidade e a inocência de certos políticos honestos com o rabo preso com os “grandes tubarões de colarinho branco.”

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